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A fome é jogada para debaixo do tapete na Coreia do Norte

A fome é jogada para debaixo do tapete na Coreia do Norte

29/09/2017 às 09h41 Atualizada em 29/09/2017 às 13h41
Por: RegiãOnline
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Correio Braziliense

 

 

Pyongyang — A Coreia do Norte enfrenta sua pior seca desde 2001. Ela traz fome e mortes em massa. Mas quem mora em Pyongyang desconhece essa realidade. Todos os norte-coreanos só podem acessar uma rede de intranet, um canal de televisão, um jornal diário, uma rádio e uma revista mensal, tudo editado pelos censores da dinastia Kim. Tais veículos nunca trouxeram uma informação sobre esse quadro, muito menos imagem.

Os 2,8 milhões de habitantes da capital têm acesso a telefone celular, mas só conseguem se comunicar com quem vive na metrópole e nos seus arredores. Não há sinal no interior. Para ir de uma cidade a outra, o cidadão precisa de uma licença especial, concedida em casos raros (todos de interesse do governo) e às pessoas mais fiéis ao regime. Há postos de vigilância em todas as estradas, com militares armados de metralhadora. Eles param todos os veículos e pedestres para conferir documentos.

Em meus 10 dias na Coreia do Norte, só me deixaram pisar em uma fazenda cooperativa-modelo, a cerca de 20km de Pyongyang, onde estava hospedado. Agentes do governo me apresentaram uma vila construída para os camponeses, onde todos moram em casas de dois quartos, com banheiro, geladeira, fogão e televisão. A energia vem de painéis solares.

Nessa comunidade, bebês e crianças frequentam uma creche limpa e bem equipada. Para as crianças maiores e os adolescentes há outras instituição de ensino. Tudo em meio a dezenas de estufas, onde são cultivadas frutas, verduras e legumes. Vi e provei algumas, entregues por sorridentes camponeses. Todos posaram para fotos, totalmente liberadas no local, algo raro em minha visita ao país. Encontrei uma dezena deles roçando uma área de plantio em frente à vila. Estavam todos com roupas novas e bem passadas — calças e camisas de mangas compridas —, calçados novos e bem lustrados. Havia duas mulheres. Ambas maquiadas e muito limpas. No mesmo momento, seis integrantes da cúpula do Partido Comunista norte-coreano, em três Volkswagen Polo brancos (também novos) faziam uma “inspeção” na fazenda, segundo o meu intérprete, escalado pelo governo para me acompanhar todos os dias, com um motorista e um guia.

Colheitas dizimadas

A notícia da seca e da fome partiu da Organização das Nações Unidas (ONU). Em julho, o organismo internacional divulgou um alerta sobre a escassez severa de alimentos, que deixou a Coreia do Norte dependente de importações de alimentos em caráter emergencial. Os mais vulneráveis à fome são as crianças e os idosos, por correrem um risco maior de desnutrição e morte. Quadro agravado pela redução drástica da ajuda humanitária nos últimos anos, em parte por causa das sanções impostas aos país em retaliação a seu programa armamentista.

Tudo começou entre abril e junho de 2017. A escassez de chuvas dizimou colheitas de primeira necessidade, como arroz, milho, batatas e soja, indispensáveis à sobrevivência de grande parte da população durante a entressafra, que vai de maio a setembro. Após meses de seca, as chuvas voltaram a cair em julho, tarde demais para garantir o plantio dos alimentos que precisariam ser colhidos entre outubro e novembro.

O braço da ONU para agricultura (FAO, na sigla em inglês) estima que as colheitas norte-coreanas iniciais de 2017 caíram mais de 30% em relação às do ano passado. A FAO afirma que o país vai precisar importar alimentos por ao menos três meses para garantir o suprimento adequado, o que já está sendo feito, por meio da China, mas sem qualquer informação oficial.

O quadro atual lembra a maior crise de escassez de alimentos da história recente do país, iniciada em 1996. Dois anos depois, o Programa Mundial de Alimentos da ONU montou sua maior operação, com o objetivo de ajudar um terço da população norte-coreana — ou 7,5 milhões de pessoas.

Desertores fogem para o sul

A imprensa sul-coreana destaca novos casos de desertores que atravessam fronteira entre os dois países desde o início de 2017. A ameaça de fome generalizada seria um dos motivos, ao lado do endurecimento do regime ditatorial e da pressão dos Estados Unidos. Em média, um desertor norte-coreano se arrisca a enfrentar as minas terrestres e os guardas fortemente armados da zona desmilitarizada das duas Coreias. Tudo começou entre abril e junho de 2017. A escassez de chuvas dizimou colheitas de primeira necessidade, como arroz, milho, batatas e soja, indispensáveis à sobrevivência de grande parte da população durante a entressafra, que vai de maio a setembro. Após meses de seca, as chuvas voltaram a cair em julho, tarde demais para garantir o plantio dos alimentos que precisariam ser colhidos entre outubro e novembro.

Na época, pesquisas identificaram crianças de 1 e 2 anos com desnutrição aguda e famílias que se alimentavam de galhos para sobreviver. Estima-se que entre 340 mil e 3,5 milhões de norte-coreanos morreram por conta de uma escassez alimentar de grandes proporções. Os números variam de acordo com as fontes. O mais baixo parte de órgãos da dinastia Kim, que credita a catástrofe ao embargo liderado pelos Estados Unidos.

 

Já em 1º de julho, um navio da guarda costeira sul-coreana interceptou um barco de pesca ao largo da costa leste da península. Ele transportava cinco pessoas, incluindo um graduado do Instituto Pyongyang de Ciência, da Coreia do Norte, seu filho, a namorada de seu filho e dois integrantes da família de seu irmão. O filho e a namorada também foram graduados na mesma universidade e, como são considerados da elite da sociedade norte-coreana, eram autorizados a morar em Pyongyang, a vitrine do regime.

 

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