Mato Grosso do Sul é uma das referências do Brasil na busca de novos sistemas de produção para melhorar o rendimento na agropecuária e ao mesmo tempo assegurar a preservação do meio ambiente. A Integração Lavoura-Pecuária (ILP) e a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) estão entre técnicas de maior destaque nas propriedades rurais do estado.
É cada vez maior a quantidade de produtores que estão aderindo a estes sistemas, em razão dos excelentes resultados alcançados. A Fundação MS, especializada em pesquisas e difusão de tecnologias, foi pioneira nos estudos e desenvolvimento destas metodologias produtivas. As primeiras experiências da instituição ocorreram há 25 anos.
Os estudos apontam que a diversificação de sistemas ajuda na recuperação de pastos degradados, devolve vigor às áreas desmatadas, aumenta a qualidade e a quantidade da produção de grãos, carne e leite.
O pesquisador e diretor-executivo da Fundação MS, Alex Melotto, destaca a eficiência dos sistemas de integração. “Mato Grosso do Sul é um dos estados com maior possibilidade de crescimento na agricultura e pecuária, só trabalhando com a integração. O estado tem 10 milhões de hectares de pastagem com algum tipo de degradação. Só com a pecuária demora de cinco a sete anos para recuperar um pasto. Com a soja, em muitos casos, é possível recuperar a pastagem já no segundo ano de cultivo”.
Melotto afirma que os sistemas integrados são as melhores ferramentas para otimizar a produção e a produtividade. “Com a integração é possível conseguir uma amortização do custo inicial, ter diversificação das fontes de renda. Com isso eu tenho componentes para atingir mercados diferentes, consigo explorar melhor o mercado. A integração propicia a quebra do ciclo de várias pragas, doenças e o controle de plantas daninhas” explica o pesquisador.
O produtor Rodrigo Monteiro, dono da fazenda Quinzão, em Sidrolândia (MS), sempre trabalhou com a pecuária. O fazendeiro conta que não estava conseguindo recuperar a pastagem, com a qualidade e a velocidade necessária.
Há quatro anos, o produtor encontrou na Integração Lavoura-Pecuária a solução para recuperar o pasto degradado. Ele começou com 100 hectares destinados à agricultura e foi aumentando nos anos seguintes. Atualmente são 400 hectares destinado à agricultura.
Na fazenda com 1.150 hectares, Monteiro planta milho no inverno e soja no verão. A cada dois anos, ele faz a inversão das áreas com lavoura e pastagem.
“Eu percebi quando colhi o milho e deixei o capim que realmente era um capim muito melhor. Eu busquei uma assessoria e estou com eles desde 2014. Começamos devagar com agricultura de precisão. No inverno, em vez de plantar tudo de milho, eu plantava um terço da área com milho e o resto da área com capim para inverno. Eu fiz a safrinha depois. Tinha capim sobrando, daí começou desde então. Agora eu estou na fase de estabilizar, para recuperar a pastagem. Em quatro a cinco anos, eu consigo passar toda a fazenda para agricultura de precisão”, projeta.
O produtor José Rodrigues, dono da fazenda Cachoeirão, em Bandeirantes (MS), trabalhou por muitos anos apenas com a pecuária. Investir em agricultura, na fazenda com o solo bastante arenoso, era algo pouco provável.
Rodrigues conta que estava bastante preocupado com a pastagem cada vez mais degradada e, por isso, decidiu buscar novas alternativas.
Em 2005, ele plantou 340 hectares de soja e nos ciclos posteriores foi ampliando o espaço destinado à agricultura. Atualmente são 1,8 mil hectares reservados ao cultivo do grão. A cada dois ou três anos, o produtor faz inversão de área para plantar soja e pastagem.
“Tenho mais rendimentos porque agora tenho mercadoria para negociar o ano todo. Além disso melhoro a produtividade da soja e ainda produzo uma carne de melhor qualidade e de maneira mais rápida”, destaca Rodrigues.
O pesquisador da Embrapa Gado de Corte Roberto Giolo explica que vários fatores podem contribuir para o processo de degradação do solo de uma área de pastagem, mas que o manejo inadequado é uma das principais causas deste problema no estado.
Ele explica que o excesso de animais por metro quadrado não deixa o pasto se recuperar sozinho. Além disso, a taxa de alta lotação frequente diminui a capacidade produtiva do solo. Outro erro grave, conforme o pesquisador, é no momento do plantio, com a escolha de uma variedade de pastagem que não seja a recomendada para a área que o produtor tem.
“Se você tem um solo bom, a tendência é você utilizá-lo para a agricultura. Então o solo de pastagem, de cara, já não é o melhor. Então muitas vezes o produtor, além de escolher errado a forrageira, ainda não faz os tratos culturais adequados. Depois que a pastagem está em um estágio de degradação de intermediário para avançado, daí começam aparecer o cupim, os insetos, as pragas. A cigarrinha é a principal” explica o pesquisador.
Giolo afirma ainda que o pior estágio da degradação é quando o solo começa a ser afetado, quando o produtor vê que a pastagem não está respondendo. Aos poucos vão surgindo espaços sem forrageiras e no local surgem plantas invasoras. Com o manejo inadequado aparecem voçorocas e erosões no pasto.
“O primeiro ponto para evitar a degradação é retirar os animais da pastagem, isso é o mais simples. Outras estratégias são as praticas de adubação e de calagem. Outra alternativa é o uso dos sistemas de integração, que têm uma vantagem, porque você vai ter que preparar a área que era pasto, vai plantar. Só que depois que você colhe aquela cultura, o valor da venda dos grãos paga integralmente, ou um percentual, do valor que ele investiu nesta atividade. De modo que logo depois da soja ele planta o pasto de novo”.
O pesquisador acrescenta. “Essa ação de utilizar a lavoura em integração na verdade recupera o pasto e já tem parte dos custos já amortizados. O benefício imediato é que você faz a recuperação do seu pasto e você pode ter essa recuperação toda paga pela venda dos grãos. No futuro você tem uma pastagem melhor, porque vai vir num solo todo corrigido para a lavoura que foi plantada” conclui Giolo.
O Programa Terra Boa- O governo do estado, ciente dos benefícios, decidiu apoiar os produtores que querem investir no sistema de integração lavoura-pecuária, no lavoura-pecuária-floresta e no pecuária-floresta. Desde 2016 está em execução o programa Terra Boa.
A ideia é incentivar o aumento da produção e da produtividade, tornar o agronegócio mais competitivo, fortalecer as cadeias produtivas e reduzir os impactos ao meio ambiente.
A meta é recuperar, em cinco anos, 2 milhões dos 8 milhões de hectares de pastagens degradadas no estado. Com isso, a expectativa é de crescimento na produção de 7,6 milhões de toneladas de grãos, 768 mil toneladas de carne, 12 milhões de toneladas de cana-de-açúcar e 17,7 milhões de metros cúbicos de madeira. O que deve resultar em um incremento no valor bruto da produção agropecuária do estado de R$ 12 bilhões.
A Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul) também acredita que a diversificação de sistemas é uma das melhores alternativas para ajudar a segurar a rentabilidade e a sustentabilidade no campo. O consultor técnico do Sistema Famasul Clóvis Tolentino cita vários benefícios.
Entre os destaques está a otimização dos recursos produtivos. Em uma mesma área é possível produzir de duas a três culturas agrícolas.
“Outro benefício é a preservação ambiental, porque não ocorre a necessidade de abertura de novas áreas. Isso gera uma diversificação da renda para o produtor rural. Os sistemas inclusive favorecem até o aumento da produtividade, como na pecuária de leite. As vacas, quando ficam em sistemas sombreados, elas também têm um nível de estresse menor e, consequentemente, podem expressar mais a sua produção” explica.
Tolentino também destaca o empenho das instituições de pesquisas, fundações e universidades para divulgação do conhecimento sobre os sistemas de integração.
“As áreas em integração otimizam a área. Elas diversificam a renda, diminuem os ricos da atividade, porque se uma cultura se frustrar, você tem a renda de uma outra atividade. Então tudo isso favorece a sustentabilidade da atividade, a sustentabilidade ambiental. Por isso, há um esforço muito grande de se difundir e levar orientação técnica para que os produtores tenham acesso a esse nível de tecnologia e implantem em suas propriedades” conclui.
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