Por Radio Caçula
Imagem/Fecebook
Perder um parente vítima de suicídio é algo doloroso, mas quando a ação é cometida por uma criança, o sentimento de impotência pode ser ainda maior para quem fica. Para a professora acadêmica e psicóloga Avany Cardoso Leal, os pais, os cuidadores e a escola devem ficar atentos às mudanças de comportamentos dos pequenos.
Segundo ela, muitos ainda não sabem lidar com os seus sentimentos, uma vez que estão em processo de formação e, diante de um problema, acabam apresentando sintomas depressão que acabam não ficando aparentes para quem tem a convivência diária. Os sintomas da doença são bem diferentes dos adultos. Com isso, a criança acaba não sendo vista e, infelizmente, põe fim à própria vida.
Um caso similar aconteceu nesta quarta-feira (10), na cidade Camapuã, distante 143 km de Campo Grande. Segundo informações da Delegacia da Polícia Civil da cidade, às 17h40, o menino Kayo Vinicyus Pereira Machado, de 12 anos, não teve tempo de pedir ajuda e se matou. Filho único, o menino foi encontrado pela mãe Fabiana Silva Pereira, de 33 anos.
Segundo Avany, há relatos de casos como esse, de suicídio infantil, em vítimas até mais novas, com idade de nove anos. "A criança, quando apresenta sinais de depressão, apresenta dor de cabeça, dor de barriga, porque ela não sabe lidar com isso, com sentimentos. Fica mais irritada, agressiva, tem queda de rendimento na escola. Fica no isolamento e para de brincar".
Neste momento, os pais ou responsáveis, pessoas que cuidam da criança e, ainda, os professores devem ficar mais atentos à questão. "Percebendo essa mudança de comportamento, os pais ou qualquer pessoa deve conversar com a criança. E mesmo que ele diga que está tudo certo, mas vendo que tem alguma coisa ali, com jeitinho, tenta ver o que está acontecendo. Em muitos casos, é possível reverter esse quadro".
Quando a criança sofre maus-tratos, a psicóloga afirma que ela pode até ficar mais confusa. "Mesmo com as agressões, ela ama os pais, tanto é que a maioria não quer ficar longe e, por muitas vezes, acaba até escondendo os abusos cometidos por eles".
Em uma outra visão, "se criança já é vítima em casa, e na escola ela apresenta um mal comportamento, às vezes, isso acaba passando batido e a criança acaba não sendo vista. Então, quando acontece esse tipo de caso, a gente fica muito triste. Mas todos devem ficar atentos às mudanças de comportamentos".
Momentos antes de Kayo cometer suicídio, a mãe estava com o filho na casa de uma amiga e havia pedido para que ele fosse para o lar fazer o dever da escola. Pouco tempo depois, assim que chegou na residência, encontrou o filho desfalecido e praticamente sem vida. A família prestou os primeiros socorros, mas a criança morreu antes mesmo de chegar ao Hospital Municipal da cidade.
A mãe, ainda abalada, relatou que o menino teria sido vítima de racismo na escola e que havia se queixado do caso há uma semana. "Iria hoje na escola e na polícia, mas infelizmente, não tive tempo".
O suicídio representa uma parcela expressiva do número de óbitos registrados no Brasil e no mundo e, neste contexto, é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um problema de saúde pública. Para prevenir estas situações, existe o Centro de Valorização da Vida (CVV).
Fundado em São Paulo, em 1962, o CVV é uma associação civil sem fins lucrativos, filantrópica, reconhecida como de Utilidade Pública Federal, desde 1973. Presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo e anonimato.
Os contatos com o CVV são feitos pelos telefones 188 (24h e sem custo de ligação) ou 141 (nos estados da Bahia, Maranhão, Pará e Paraná), pessoalmente (nos 89 postos de atendimento) ou pelo site www.cvv.org.br, por do meio chat e-mail. Nestes canais, são realizados mais de 2 milhões de atendimentos anuais, por aproximadamente 2.400 voluntários, localizados em 19 estados mais o Distrito Federal.