RIO - Florestas mágicas têm unicórnios. Florestas brasileiras da vida real têm onças brancas. Pesquisadores do ICMBio flagraram no Parque Nacional da Serra dos Órgãos o primeiro registro do mundo de uma onça branca. Até agora apenas tigres e leões brancos eram conhecidos.
A onça branca é uma parda ou suçuarana (Puma concolor), cuja pelagem normalmente é avermelhada. O animal foi avistado apenas uma vez, em 2013, nas imediações de Petrópolis. Mas a bióloga Cecília Cronemberger, que liderou o estudo, explica que a imagem só foi apresentada agora porque os pesquisadores esperaram a publicação numa revista científica, a “CatNews”, para divulga-la. Postada nas redes sociais pelo autor da foto, o biólogo Lucas Gonçalves, a imagem rapidamente viralizou.
O achado faz parte do Projeto Monitora, que acompanha com armadilhas fotográficas e estudos de campo, a fauna da do Parnaso. O trabalho existe desde 2010, mas está parado há dois anos por falta de recursos.
O misterioso macho branco nunca mais foi visto, mas Cronemberger, diz que não há motivo para achar que tenha morrido:
— Onças são animais naturalmente ariscos e os machos jovens, como ele, se deslocam grandes distâncias em busca de território.
A onça branca, uma das mais fantásticas criaturas já avistadas, pode estar em algum lugar nos últimos fragmentos da Mata Atlântica que resistem no Brasil.
A onça-parda (Puma concolor) ou suçuarana também é chamada de onça-vermelha ou leão-baio. Poucos animais são mais fofos do que os filhotes, que nascem pintados e muito felpudos. Ao crescer, essas onças se tornam esguias e ágeis. Um macho adulto pode pesar até 70 quilos e medir 80 centímetros de altura nos ombros e ao redor de 2, 5 metros do focinho à ponta da cauda. Esse tamanho, porém, raramente é observado em animais da Mata Atlântica, que são menores, do tamanho de um pastor alemão. As fêmeas não passam de 50 quilos.
Cecília Cronemberger explica que existe muita desinformação sobre as onças pardas e pintadas. Ela diz que esses animais não representam ameaça às pessoas e às fazendas do entorno. As suçuaranas evitam se aproximar de habitações humanas.
_ A maioria dos ataques a animais domésticos atribuídos a onças foram feitos por cães domésticos, criados sem controle. Recentemente, uma armadilha fotográfica revelou que a “onça” que vinha atacando o gado de uma fazenda perto do Parnaso era, na verdade, o cão do vizinho do fazendeiro.
Numa das obras mais clássicas da zoologia brasileira, Rodolpho von Ihering já garantia em seu “Dicionário dos Animais do Brasil”, de 1940, que a onça-parda “não ataca o gado, e muito menos o homem, do qual sempre foge”.
As suçuaranas são animais ariscos, temem o ser humano. Só ataca o ser humano se for acuada ou ficar em pânico. Respeitada a distância, não há problema. E manter onças distantes tampouco é difícil. Elas se assustam com facilidade. Não gostam de luzes e menos ainda de sons fortes, como os de fogos e buzinas. Apitos, rádio e TV em som alto já costumam ter efeito.
Só existe um registro no Brasil de ataque de onça-parda a pessoas, em Carajás, há mais de 30 anos e mesmo assim porque havia lixo espalhado por um ajuntamento humano cercado por densa floresta amazônica.
Ouvir uma onça também é para poucos. E não espere um rugido. O famoso esturro, trovão das matas dos tupis, é a voz das onças-pintadas. A suçuarana mia como um gatinho.