Por Bruno Vaiano, de SUPER
Um tumor é feito de células mutantes, com código genético modificado. Essas células produzem proteínas diferentes, que, como um alarme, chamam a atenção do nosso sistema imunológico. Glóbulos brancos, os policiais do nosso corpo, são enviados à cena do crime, guiados por essas proteínas. Sua função é destruir o câncer, mas quando eles chegam lá, são paralisados e não conseguem reagir – o tumor tem truques bioquímicos na manga para se salvar.
Radioterapia e quimioterapia são tratamentos valiosos. Mas seria muito mais fácil “acordar” os glóbulos brancos – e deixar eles cuidarem do tumor com as próprias mãos.
Esse truque está prestes a sair do papel. Pesquisadores da Universidade Stanford descobriram dois agentes que, quando injetados diretamente em um tumor, fazem as células de defesa do paciente que já estavam lá retomarem o combate. A técnica, que eliminou completamente o câncer em 87 dos 90 ratos de laboratório testados, tem a vantagem de combater também as metástases – “filiais” do tumor original que se formam em outras partes do corpo.
Tratamentos para o câncer que ativam o sistema imunológico são chamados imunoterapias, e várias delas já são aplicadas em hospitais. Uma das modalidades desenvolvidas recentemente envolve retirar glóbulos brancos do paciente, usar engenharia genética para editá-los em laboratório e então injetá-los de volta no corpo. Acordados. Outra envolve ativar o sistema imunológico inteiro, e não só as células da região em que está o tumor – o que pode causar efeitos colaterais. Nenhuma delas vai tão direto ao ponto quanto a nova solução.
“Todos esses avanços da imunoterapia estão mudando a prática médica”, afirmou Ronald Levy, professor de oncologia e líder do estudo, publicado na Science. “Mas a nossa abordagem não exige a ativação completa do sistema imunológico nem a customização das células imunes do paciente. Nós aplicamos quantidades muito pequenas de dois agentes uma única vez, e eles estimulam só as células de defesa que já estão dentro do tumor [atraídas por suas proteínas].”
Os agentes em questão são um pedacinho de DNA chamado oligonucleotídeo e um anticorpo – que é, de maneira simplificada, uma proteína que informa ao sistema imunológico que há um inimigo a combater. Juntos, os dois cutucam um receptor chamado OX40, que fica na membrana das células de defesa. Ele é como um botão: quando é apertado, o linfócito parte para cima.
A célula ativa é obstinada: depois que devora o tumor principal, detecta os tumores secundários, que se espalharam por outras partes do corpo. Corre atrás e acaba com eles também – afinal, ela já sabe qual é a assinatura bioquímica das células mutantes.
O primeiro teste foi feito em 90 ratos com linfoma (câncer no sistema linfático). 87 deles foram curados na primeira tentativa, os três restantes, na segunda. Animais com melanoma, câncer de mama e câncer colorretal reagiram igualmente bem. Como o tratamento só depende de o câncer já ter sido identificado pelo sistema imunológico, ele provavelmente funciona em todas as situações. “Eu não acho que há limites para o tipo de tumor que nós poderíamos tratar. Basta ele ter sido infiltrado pelas células de defesa”, resume Levy.
Além dos ótimos resultados, uma grande vantagem da dupla de agentes é que um já foi aprovado para uso humano, e o outro se saiu bem em diversos testes clínicos. Se eles forem tão eficazes para nós quanto são para os camundongos, é provável que a nova solução saia rapidamente do papel – e comece a ser usada logo com pacientes reais.
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