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Morreu nesta terça-feira (13), aos 100 anos de idade, em sua casa no Centro de Campo Grande, o ex-governador de Mato Grosso do Sul Wilson Barbosa Martins. Ele vinha enfrentando problemas de saúde há alguns anos e realizava tratamentos em casa, na rua 15 de Novembro.
Wilson faleceu por volta das 6h, em decorrência de complicações cardíacas. O velório do ex-governador ocorrerá no Centro de Convenções Rubens Gil de Camillo –o Palácio Popular da Cultura, a poucos metros de onde Wilson administrou Mato Grosso do Sul. O sepultamento está previsto para às 10h de quarta-feira (14) no cemitério Parque das Primaveras. O Governo do Estado e a Prefeitura de Campo Grande decretaram luto de 3 dias pela morte do ex-governador.
Dr. Wilson, como ficou conhecido pelos sul-mato-grossenses, faria 101 anos em 21 de junho. Ex-prefeito de Campo Grande entre os anos de 1959 e 1963, deputado federal e senador por Mato Grosso do Sul, ele também foi governador por dois mandatos –1983 e 1986 e 1995 e 1998.
História - Ele nasceu na região de Vacaria, que pertenceu a Campo Grande, mas hoje integra o município de Rio Brilhante, em 21 de junho de 1917. Formou-se em Direito na Faculdade do Largo de São Francisco, em São Paulo, aos 22 anos, em 1939. Na época, ele foi veterano de Ulisses Guimarães, que mais tarde foi companheiro na elaboração e promulgação da Constituinte de 1988, conhecida como Carta Cidadã.
Ele retornou a Campo Grande em 1941 e começou a trabalhar como advogado. Em 1943 se casa com Nelly Martins, filha de um dos pioneiros do movimento de divisão do então Mato Grosso, Vespasiano Martins, que foi prefeito de Campo Grande por quatro mandatos, senador da República e governador revolucionário do Estado de Maracajú, uma antecipação do que viria a ser Mato Grosso do Sul, criado sem autorização da União durante a revolução constitucionalista de 1932.
Em 1943, ao se aliar aos opositores à ditadura de Getúlio Vargas, ele ajuda a fundar a UDN. Dr. Wilson se encantou com as ideias separatistas do sogro e a vivência no mundo jurídico levaram Wilson Barbosa Martins a entrar para a vida pública em 1946. Ele disputou o cargo de prefeito de Campo Grande pela primeira vez, quando perdeu para Ary Coelho de Oliveira (PTB), que foi assassinado dois anos depois em Cuiabá, então capital do Mato Grosso uno.
No mesmo ano em que Vespasiano se elege ao Senado, o genro assume a Secretaria-Geral da Prefeitura de Campo Grande (MT) na gestão do prefeito Fernando Corrêa da Costa.
Em 1958, Dr. Wilson coloca seu nome à apreciação do eleitor pela segunda vez e é eleito prefeito de Campo Grande, onde permanece até 1962. A administração é marcada pela reforma administrativa, organização do cadatro imobiliário e da cobrança de tributos e na implantação da previdência social no município.
Ao encerrar o mandato, aos 45 anos, o jovem Martins viu sua gestão fazer da cidade um dos cinco municípios de maior progresso no Brasil, eleito por um concurso feito pelo Ibam (Instituto Brasileiro de Administração Municipal) e pela extinta revista O Cruzeiro.
Ao sair da Prefeitura é eleito deputado federal pelo Estado de Mato Grosso. A imprensa da época o elegeu como um dos dez melhores parlamentares da Câmara Federal por sua atuação nas comissões permanentes da Casa. Na Câmara dos Deputados, ele participou ativamente da crise causada pela renúncia do presidente Jânio Quadros. Em entrevista, Martins sempre considerou a renúncia de Quadros um "grave erro político".
Em 1961, como integrante da ala reformista da UDN, conhecida como Bossa Nova, acompanhou o debate sobre as reformas propostas por João Goulart, o Jango.
Em 1966, então deputado federal, criou e presidiu o então MDB (Movimento Democrático Brasileiro). Opositor da ditadura estabelecida no Brasil em 1964, é cassado do cargo em 1969 pelo AI-5 (Ato Institucional nº 5) e tem seus direitos políticos suspensos por 10 anos.
Novo tempo - Nos anos de chumbo, Wilson se afasta da vida pública e passa a se dedicar a advocacia. No mesmo ano em que tem de volta seus direitos políticos, é eleito o primeiro presidente da OAB/MS (Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Mato Grosso do Sul).
Logo após a criação do Estado de Mato Grosso do Sul, pelo então presidente Ernesto Geisel, ele volta a presidir o partido que ajudou a fundar, o MDB, que depois passou a ser chamado de PMDB.
Em 1982, após o irmão, Plínio Barbosa Martins se recusar a ser candidato da oposição, apesar do favoritismo, Dr. Wilson disputa a eleição e se torna o primeiro governador eleito pelo voto direto na história de Mato Grosso do Sul. Ele derrotou José Elias Moreira, o candidato do Governo, e sucede, pela primeira vez, o engenheiro Pedro Pedrossian. Os dois se tornam inimigos históricos. Para o peemedebista, o desafeto gastava muito e deixava obras por fazer.
Ele governou o Estado de 1983 a 1986. Dr. Wilson fez uma gestão memorável que o projetou como favorito nas eleições seguintes. A administração pavimentou 2,5 mil quilômetros de rodovias, incluindo-se as rodovias federais BR-262 (entre Corumbá e Três Lagoas) e a BR-163 (entre Dourados e a divisa do Paraná).
Dr. Wilson teve bom trânsito com o então ministro da Fazenda, Delfim Neto, e viabilizou recursos para implementar uma política de valorização do funcionalismo público estadual.
Em 1986, ele renunciou para disputar uma vaga no Senado e deixou o Governo para Ramez Tebet (PMDB). Eleito senador para o período de 1987-1994, ele foi um dos integrantes da Constituinte de 1988. Um dos companheiros de Senado foi Mário Covas, que se elegeria governador de São Paulo.
Segundo mandato - Em 1994, ele disputa o Governo com Levi Dias e vence com 392,3 mil votos. No entanto, o segundo mandato de Martins é marcado por problemas. Ele herda, pela segunda vez, a administração de Pedro Pedrossian, que deixa várias obras inacabadas, como o Parque das Nações Indígenas, o Hospital Regional de Mato Grosso do Sul, o Parque do Produtor (que se transformou no Shopping Norte Sul na gestão de André Puccinelli) e a Estação Rodoviária de Campo Grande no Jardim Cabreúva (que não concluída até hoje).
Em entrevista, Wilson Martins admite que a segunda administração foi "um Governo marcado por crises". Ele comandou a renegociação da dívida pública do Estado com o Governo federal, então comandado por Fernando Henrique Cardoso (PSDB), um aliado. O acordo compromete, até hoje, 15% da receita corrente líquida com o pagamento da dívida. "As regras eram uniformes", justificou-se o ex-governador.
Ele também comandou a venda da Enersul (Empresa Energética de Mato Grosso do Sul) por R$ 700 milhões. O dinheiro foi usado para pagar salários dos funcionários e débitos do governo estadual. Ele transferiu o cargo para o candidato da oposição, Zeca do PT, e se despede da vida pública.
Academia – Em 2010, lança seu livro “Memória – Janela da História” e é eleito para ocupar a cadeira nº 38 da ASL (Academia Sul-Mato-Grossense de Letras), que antes era ocupado por sua falecida esposa, também escritora.
Com o passar dos anos e a saúde frágil, Wilson se tornou mais recluso. Em 2013, foi internado após um AVC (acidente vascular cerebral), e no ano seguinte sofreu um mal súbito. Mesmo assim, manteve-se lúcido. Em 2017, quando da comemoração de seu centenário, não compareceu a diferentes eventos em sua homenagem.
Sua esposa faleceu em 2003. Wilson Barbosa Martins eve com ela três filhos: Thaís, Celina e Nelson.
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