Campo Grande News
Quem sai de Campo Grande sentido Aquidauana pela BR-262, estrada que é caminho para os municípios pantaneiros, notou o crescimento às margens da rodovia de acampamentos de sem-terra espalhados, principalmente em dois pontos: na região de Terenos, na altura do km 407, e no entorno do trevo de acesso a Dois Irmãos do Buriti. É possível ver barracos prontos, outros em formação e o movimento frequente de veículos, alguns ocupando o acostamento.
Ao todo, cinco movimentos representantes dos sem-terra são responsáveis pelos acampamentos, montados por variados motivos, seja como forma de protesto ou até com suposta autorização do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). “As pessoas podem ter certeza, a BR-262 vai ser a rodovia dos acampamentos”, define Rosana Correia, 40 anos, umas das líderes da MAF (Movimento Sul-Mato-Grossense da Agricultura Familiar), com acampamento em Terenos.
A situação que mais chama atenção é em Dois Irmãos do Buriti. Desde o dia 8 de junho, barracas vêm sendo montadas às margens não só da BR-262 como na via de acesso à cidade, ao longo de aproximadamente 21 quilômetros de extensão. Bandeiras demarcam a que entidade pertence o acampamento erguido. O Campo Grande News identificou pelo menos três: Movimento Novo, MCLRA (Movimento Camponês de Luta pela Reforma Agrária) e o mais famoso deles, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra).
Na tarde deste sábado (15), a reportagem contou ao menos 23 barracos na BR-262, do lado da pista sentido Capital, demarcada com a bandeira do MCLRA, muitos deles incompletos, somente com a armação construída e ainda não cobertos.
A recepção dos acampados é com desconfiança. Um grupo que se identifica como liderança da entidade se recusa a falar com a reportagem. “Não tem o que dizer nesse momento. Não é a hora. A gente não quer se posicionar. Quando for preciso procuraremos o seu jornal”, disse um homem idoso, que se recusa a dar o nome.
Por todo o trecho de responsabilidade do MCLRA, os líderes seguiram a reportagem de carro e evitaram que houvesse o contato com os lavradores.
Chegando à rotatória, a tradicional bandeira vermelha indica que o trecho agora é de responsabilidade do MST. Léa Boas, 41 anos, é a incumbida de ser entrevistada. E explica: são cerca de 150 famílias atualmente, em um espaço que calculam ter capacidade até para 300.
“É um acampamento aberto, quem quiser só aparecer e ajudar a construir ou finalizar (seu barraco)”, disse a líder. Ela afiram que, por enquanto, quase todos os ocupantes são ex-funcionários de fazendas da região que se engajaram no movimento nos últimos anos. É possível ver animais, de galinhas a porcos e bovinos, além dos bichos domésticos. (Veja vídeo abaixo)
No trecho do MST, a situação é mais estabelecida: há mais barracos, prontos ou em construção. Aproveitando o final de semana, muitos dos novos moradores, avessos à entrevistas, descarregavam utensílios domésticos ou material para cobrir as estruturas pré-moldadas de madeira, o alicerce.
As moradias são humildes e a estrutura segue o padrão habitual de outros acampamentos do MST. Por ser novo, ainda será erguida a sede do acampamento, não nomeado. Tudo é improvisado, como banheiro e alimentos, entre os moradores.
“Viemos para ficar”, garantiu Léa, revelando que a principal motivação é política, protestar contra o governo do presidente Michel Temer (PMDB). “Precisamos chamar a atenção para a nossa causa em um momento de decisões prejudiciais ao trabalhador que são decididas em Brasília.”
Por enquanto, o clima é de tranqüilidade, garantiu a líder camponesa. “Os seguranças das fazendas estão nos tratando bem. Vamos ver até quando”, refletiu.
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