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Seca extrema coloca rios de MS em níveis não registrados há 50 anos

Seca extrema coloca rios de MS em níveis não registrados há 50 anos

15/09/2021 às 08h17 Atualizada em 15/09/2021 às 12h17
Por: RegiãOnline
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 G1 / LUANA RIBEIRO, G1 MS

Na região do Forte Coimbra, que deveria estar alagada, só se vê areia. — Foto: Lucas Lélis/Arquivo pessoal

A seca extrema coloca rios de Mato Grosso do Sul em um ambiente crítico. O que já foi visto no passado, se repete agora. Conforme Marcelo Parente Henriques, pesquisador do Serviço Geológico do Brasil, desde 2019 os dados das estações de monitoramento mostram uma queda acentuada no volume de chuvas e, consequentemente, no nível dos rios.

O cenário remonta cena histórica de 1973. O jornal impresso da época trouxe como destaque na capa a notícia: “o Pantanal está secando'. O texto explica que “em algumas fazendas, a água que deveria ser dominante na região chega a escassear e os fazendeiros são obrigados a recorrer a poços artesianos'. Um período de seca extrema, considerado histórico pelos pesquisadores, diante da falta de chuvas e do nível do Rio Paraguai.

Toda semana, o serviço divulga por meio do Sistema de Alerta Hidrológico um Boletim de Monitoramento da Estiagem na Bacia do Rio Paraguai. Nesta última semana, o rio manteve a tendência de declínio do seu nível em quase todas as estações de monitoramento da calha.

Em Cáceres (MT), o valor do nível d’ água registrado na estação fluviométrica foi de 0,36 centímetros, apesar de ter apresentado uma pequena elevação, permanece atingindo os menores valores mínimos já observados para esse período do ano.

Em Bela Vista do Norte - MT (276 centímetros), Ladário - MS ( zero centímetros), Forte Coimbra – MS (- 111 centímetros) e Porto Murtinho - MS (124 centímetros), o nível d’ água continua permanecendo na zona de atenção para mínimas.

“Estamos diante de um fenômeno climático, cíclico. Tem relação com as mudanças climáticas, tem. Mas não podemos atribuir somente a isso. É uma situação muito crítica e preocupante', explica Parente.

O boletim diário da sala de situação do Instituto do Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) confirma o alerta e mostra que outras regiões estão enfrentando a mesma situação. No Rio Paraguai, por exemplo, além de Ladário, a régua de Porto Esperança também registra níveis abaixo de zero (-105 centímetros). No rio Aquidauana, a cota, que para ser considerada normal fica em 600 centímetros, está em 169 cm.

A situação também é grave no Rio Aporé, em Cassilândia ( 86 centímetros), e em Rio Pardo, na estação da Fazenda Buriti (290 centímetros). Já no Rio Piquiri, o nível registrado na estação Pousada Taiamã atingiu a mínima histórica de 192 centímetros em 13 de setembro de 2021. Até então, a mínima era de 222 cm registrada em outubro do ano passado. Dados da série histórica desde 1996.

“Nós temos um efeito dominó em várias cidades que estão na mesma grande bacia hidrográfica e expostas ao mesmo fenômeno climático. O impacto disso é que você começa a ter dessedentação animal, dificuldade de captar água para abastecimento público e, principalmente, inviabilidade de navegação para escoamento e transporte de produção', revela Parente.

Outro impacto está no aumento de incêndios. “A estiagem prolongada já vem do ano passado, no entanto, em 2019, já foi um ano que o Pantanal não inundou. A Biomassa está completamente desidratada e qualquer fogo pode provocar um incêndio de maiores proporções', complementa o pesquisador.

A Defesa Civil de Mato Grosso do Sul diz que o Estado acompanha a situação e tem tomado medidas de prevenção, como a instauração do Plano de Manejo Integrado do Fogo. “O impacto disso é na navegação, principalmente, então, está inviável transportar minério pelo rio, por exemplo. A opção é fazer o transporte por terra. As concessionárias de abastecimento já fizeram a parte delas, então em monitoramento para não faltar água e os combates a incêndios estão sendo feitos em várias regiões', aponta o tenente-coronel, Fábio Catarinelli.

O G1 tentou contato com o Imasul, mas não houve retorno.

Tendência é piorar

As expectativas no que diz respeito a solução do problema não são das melhores. Ainda conforme o Boletim de Monitoramento da Estiagem na Bacia do Rio Paraguai, a tendência dos níveis dos rios é de declínio em quase todas as estações. “Considerando que para as próximas semanas, as precipitações previstas na bacia não serão significativas, o rio Paraguai continuará a apresentar a tendência ao declínio do nível d’ água na maioria das estações de monitoramento situadas em sua calha', aponta o relatório.

Em longo prazo, as previsões também não são boas. “Ano que vem, se as chuvas ficarem na média, a gente vai ter novamente um ciclo baixo e as estimativas dos institutos de meteorologia não dão boas expectativas para um futuro bom. A chuva vai vir, mas no máximo dentro da média, mais provável que abaixo da média. Para o Pantanal voltar aos níveis razoáveis, teria que chover bem no planalto por cerca de dois anos', conclui o pesquisador.

 

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