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Oito em cada dez professores não se sentem preparados para ensinar online

Oito em cada dez professores não se sentem preparados para ensinar online

18/05/2020 às 09h04 Atualizada em 18/05/2020 às 13h04
Por: RegiãOnline
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ESTADãO CONTEúDO

Reprodução

 

Quase dois meses depois de as escolas fecharem no País todo por causa da pandemia do coronavírus, 83% dos professores não estão preparados para ensinar online. E são eles que dizem isso, em pesquisa realizada pelo Instituto Península, à qual o Estadão teve acesso com exclusividade. Os docentes de redes públicas e particulares ainda se declaram ansiosos e nada realizados com o trabalho no momento atual.

Estudos internacionais e experiências em países que são considerados exemplos de educação mostram que o professor é fator determinante para o ganho de aprendizagem do aluno, principalmente para os mais vulneráveis. Em tempos de isolamento, a importância aumenta, já que muitas vezes o profissional é o único vínculo com a escola.

Quase 90% dos docentes informaram na pesquisa que nunca tinham tido qualquer experiência com um ensino a distância e 55% que não receberam, até agora, suporte ou treinamento para atuar de maneira não presencial. Sem orientação clara, os profissionais têm criado as próprias atividades. Não é à toa que 83% afirmaram se comunicar pelo WhatsApp com as famílias, em vez de usar ferramentas pedagógicas.

'Enquanto uma série de profissionais no meio de uma pandemia está fazendo seu trabalho de casa e já é difícil, o professor ainda está tendo de se reinventar completamente', diz a diretora executiva do Instituto Península, Heloisa Morel. 'Imagine a sobrecarga e o estresse.' Desde meados de março, quando as aulas foram paralisadas, as secretarias de Educação têm oferecido programas a distância, alguns pela TV, e feito parcerias para usar ferramentas online. 'Mas é preciso uma organização maior para que o professor entenda o que ele tem de fazer.'

A professora Márcia Cristina Amorim Chagas, de 50 anos, decidiu gravar vídeos com o celular no sítio onde mora em Itapecerica da Serra. É a filha de 17 anos que faz as filmagens, 'quando está de bom humor', brinca. Em um deles, Márcia teve a ideia de mostrar aos alunos como as cinzas das queimadas podem ajudar a adubar a terra para plantar cebolinha. Depois, o material vai sempre por WhatsApp para os pais das crianças.

Márcia ainda pede que os alunos escrevam ou gravem em áudio o que aprenderam. 'Uso o meu celular, com a minha internet, que às vezes não funciona, e meu computador que paguei durante dois anos', diz ela, que dá aulas para 4.º e 5.º ano em uma escola estadual na Vila Madalena, zona oeste. 'Eu trabalho numa escola integral e tive alguma formação em tecnologia, mas, para o que estamos precisando agora, o que aprendi foi mínimo.' A professora diz que ainda não conseguiu usar com suas turmas o Centro de Mídias, plataforma criada pelo governo do Estado para o ensino remoto durante a pandemia.

Na rede particular, o WhatsApp é menos comum e 56% disseram usar o aplicativo de mensagens para se comunicar com o aluno. Mais frequente é a comunicação por meio de plataformas da escola. Mesmo assim, o sentimento de despreparo diante do desafio de ensinar online é o mesmo. 'As coisas foram impostas de um dia para o outro, com o isolamento. Ninguém teve tempo de se preparar', diz a professora de ensino fundamental de uma escola particular de elite da capital, que pediu para seu nome não ser divulgado. Ela dá aulas para a fase de alfabetização e passou a criar jogos em aplicativos, com quebra-cabeça, localização de palavras, para seus alunos. 'Estamos fazendo o melhor possível, mas não é nem de longe o que a gente entende por educação. Isso é bastante angustiante.'

A presidente executiva do Todos Pela Educação, Priscila Cruz, diz que poucas secretarias de Educação ou mesmo escolas particulares no País deram formação ou infraestrutura para professores em aulas não presenciais. A maioria dos profissionais tem usado seus próprios computadores, Wi-Fi ou celulares. 'Não há preparação para aulas a distância e que são muito diferentes das presenciais. Não é intuitivo saber o que fazer online para assegurar a aprendizagem dos alunos', diz. 'Os professores estão indo na tentativa e erro. E isso tem causado ainda mais estresse a um profissional que está sendo muito demandado nesse período.'

Emocional

A pesquisa ainda mostra que o cenário inclui uma saúde mental já prejudicada do professor. Quase 70% deles se disseram ansiosos e só 3%, realizados. E a maioria (75,2%) relatou que não recebeu até agora nenhum apoio emocional da escola em que trabalha. Mesmo em redes particulares, as equipes costumam se reunir online para discutir as abordagens pedagógicas durante a pandemia, mas raramente há grupos com psicólogos para que os professores possam expor o que sentem.

Em documento divulgado pelo Todos pela Educação na semana passada, o impacto emocional em professores foi um dos pontos principais apontados para que as escolas se preocupem na volta às aulas. O grupo de especialistas que analisou 43 pesquisas sobre momentos semelhantes ao atual, como desastres e guerras, diz que o suporte psicológico para professores é crucial porque, além de serem diretamente impactados pela crise, precisarão atuar na minimização dos efeitos sentidos pelos alunos.

A pesquisa 'Sentimento e percepção dos professores brasileiros nos diferentes estágios do coronavírus no Brasil', do Instituto Península, ouve profissionais desde março e continuará até o fim da crise. Participaram nesta etapa 7.734 professores de escolas públicas e particulares do País, entre os dias 13 de abril e 14 de maio. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

 

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