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Nas aldeias de Dourados, mulheres indígenas tentaram três vezes mais suicídio do que os homens

Nas aldeias de Dourados, mulheres indígenas tentaram três vezes mais suicídio do que os homens

14/09/2019 às 16h40 Atualizada em 14/09/2019 às 20h40
Por: RegiãOnline
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DOURADOSNEWS / VINICIOS ARAúJO

- Crédito: Osvaldo Duarte/Arquivo Dourados News

 

Um dado alarmante da Secretaria de Estado de Saúde revelou que as mulheres indígenas são as que mais tentaram suicídio neste ano nas aldeias de Dourados. De 17 casos registrados, 13 foram praticados por pessoas que se identificaram pelo sexo feminino.

O suicídio na comunidade indígena ainda é uma dura realidade. Conforme mostrou o Dourados News na semana passada, dos 13 registros de óbitos auto provocados, quatro ocorreram dentro da reserva. Outros cinco foram registrados no perímetro urbano da cidade, outros três em unidade prisional e um em uma escola pública.

Ao analisar a dimensão da população em área urbana para o quantitativo de moradores na reserva, fica evidente uma necessidade de intervenção de políticas públicas que tragam mais esperança para o povo indígena.

O suicídio é a alternativa extrema encontrada pelo sujeito que sofre, que possui uma angústia insuportável. Ao Dourados News, a psicanalista Vanessa Figueiredo explica que o suicídio não é o desejo pela morte, “porque a morte é um objeto subjetivo, desconhecido”. Assim, o suicida busca nessa medida, o alívio para a aflição intensa.

Nos últimos cinco anos, 2019 é o que mais apresentou casos de tentativas de suicídio nas aldeias de Dourados. Ao todo foram 17. Em 2015, três pessoas tentaram tirar a própria vida, sendo 2 homens e uma mulher.

Em 2016 o número saltou para 14, 10 homens e 4 mulheres. No ano seguinte os dados registraram queda, tendo 6 tentativas contabilizadas, dois homens e quatro mulheres.

Já no ano passado, o total de tentativas de suicídio dentro da reserva caiu para 5, dois homens e três mulheres.

MATO GROSSO DO SUL

Apesar dos dados de tentativa serem preocupantes, dados do Ministério da Saúde apresentaram redução em casos concretizados de suicídio durantes os últimos anos em Mato Grosso do Sul.

Conforme repassado ao Dourados News, foi registrada diminuição de 59% dos óbitos auto provocados durante os anos de 2016 e 2018. A média a cada 100 mil habitantes durante esse período foi de 23,11 mortes.

A média do período anterior, entre 2013 e 2015, ainda para cada 100 mil habitantes, foi de 57,66 mortes. Isso se reflete na maioria dos demais DSEIs (Distritos Sanitários Especiais Indígenas) prioritários, conforme a imagem abaixo:

Em relação à faixa etária, observou-se num panorama nacional, que 47,7% dos óbitos ocorreram entre indígenas de 10 a 19 anos de idade, com maior proporção entre 15 e 19 anos, o que demonstra que o suicídio indígena ocorre, na maior parte das vezes, na passagem para a vida adulta, que tem sido um período crítico para os jovens dessa comunidade.

Ainda segundo o Ministério da Saúde, entre as estratégias estruturadas pela Sesai/MS (Secretaria de Saúde Indígena de Mato Grosso do Sul) para o enfrentamento do fenômeno do suicídio, uma das principais foi a implementação da vigilância epidemiológica nos DSEIs, por meio da qual é realizada a coleta, organização e análise dos dados sobre os eventos.

A segunda estratégia preconizada para o enfrentamento ao suicídio é a prevenção e promoção de saúde. Neste sentido, são realizadas ações com grupos de apoio e escuta; Projeto Terapêutico Local; Projeto Terapêutico Singular e grupos de discussão sobre temas variados.

Além, disso, em 2015, foi criada uma linha de cuidado para prevenção do suicídio para os DSEIs identificados com maiores taxas de suicídios, cuja estratégia visa oferecer suporte e apoio às famílias e grupos com proximidade à vítima de um evento, bem como acompanhamento de indivíduos identificados como vulneráveis

O Ministério relaciona a redução na média de registros nos distritos prioritários aos seguintes pontos:

1. Entre 2015 e 2018, foram qualificados 585 profissionais para elaboração de linhas de cuidado para prevenção do suicídio nos 16 DSEI prioritários.

2. Aumento de 55% dos registros de óbitos por suicídio no Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena (SIASI), sendo que a qualificação das informações epidemiológicas sobre esse agravo é um dos objetivos previstos na agenda estratégica de prevenção do suicídio em povos indígenas, lançada em 2017 pela Sesai.

3. Inclusão dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) como unidades elegíveis para o Incentivo de Atenção Especializada aos povos indígenas.

4. Inclusão de ações para populações indígenas nos planos de prevenção dos seis estados com maior incidência de suicídios, que receberam recursos para ações específicas do ministério.

5. Para colaborar na prevenção do suicídio e colaborar no enfrentamento ao uso prejudicial de álcool, a Sesai publicou, junto à FUNAI e a Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, o relatório da oficina sobre povos indígenas e necessidades decorrentes do uso do álcool, que propõe estratégias comunitárias e intersetoriais de promoção do bem viver indígena, contendo diretrizes e relatos de boas práticas.

Nos relatórios enviados pelos 16 DSEI prioritários, encontrou-se que as principais oportunidades identificadas para alcance da meta foram a possibilidade de oferta de capacitação em saúde mental para as Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena (EMSI) e apoio da gestão local, enquanto as maiores fragilidades encontradas foram o número insuficiente de profissionais de saúde mental nos DSEI e a dificuldade de entrada em área em conjunto com as EMSI.

OUTRO LADO DA MOEDA

No entanto, apesar dos esclarecimentos apresentados pelo Governo Federal, o CIMI (Conselho Indigenista Missionário) produziu no ano passado um relatório onde mostra um panorama pra lá de preocupante.

No documento, a iniciativa aponta que Mato Grosso do Sul é líder no ranking fúnebre em morte auto provocada. “Nos 2000 até 2016, 782 indígenas tiraram suas vidas apenas no Mato Grosso do Sul, lugar conhecido pelo poder do agronegócio que seria fator primordial para o extermínio silencioso dos povos indígenas da região”, cita trecho.

Para pesquisadores entrevistados pelo Cimi, a questão fundiária no Brasil e a falta de demarcação de terras para os povos originários também seriam fatores que potencializam esses número de suicídios entre os indígenas. “Por falta de perspectivas melhores”, aponta o estudo.

Sobre o efeito da tomada de propriedade da terra, o psicólogo Alessandro de Oliveira Campos afirma que “para os povos indígenas significa a destruição do seu estilo de vida, pois é nos territórios originais que estão presentes os elementos da vida comunitária, é onde eles se conhecem, cantam, dançam, fazem seus rituais, se relacionam da maneira mais completa e complexa”, define.

O especialista também relata no estudo que, “o alcoolismo, o suicídio e a prostituição são elementos que operam em paralelos nos territórios ou próximo aos territórios em que vivem os povos indígenas”.

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